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domingo, 11 de dezembro de 2022

Impossivel Ganhar Uma Discussão Com Uma Mulher

 Sil estava estranha, estranha de um jeito que eu previa uma tempestade á caminho, uma desgraça apocaliptica.

Estava quieta e inquieta. Quebrava o silêncio uma vez, ou outra, para sentenciar uma indireta qualquer.

Se ela não fosse tão boa de cama eu já teria ído embora. Mas daí eu também perderia os cachorros e os gatos, e mais o sexo. Mas no geral ela era perfeita, eu é que era um merda que vivia me metendo em confusões.

No fim acho que todos os homens são assim, eu queria comer ela, comer as amigas dela, comer as nossas amigas; comer as celebridades do cinema.

Todos nós homens somos escrotos assim, o que importava era nosso pau numa buceta molhada e quente.

Mas o caso aqui era que ela iria explodir, iriámos discutir, e seria mais uma discussão que eu perderia.

Mais uma humilhante derrota, como todas as outras. Como todas as milhares de outras duscussões que eu perdi.

Na verdade uma vez eu quase ganhei uma.

Lembro que era uma daquelas situações em que os deuses nos abençoam, onde talvez uma rara conjunção planetária daquelas que acontecem a cada dez milhões de anos, dá ao pobre homem mortal a razão.

Aí sim, temos argumentos irrefutáveis, todas as provas ao nosso favor.

Mas é aí que elas usam uma arma infalível, elas choram!!!

Choram e vencem.

Mesmo sabendo que temos razão, acabamos sucumbindo a esse artificio que ela sabem muito bem como utilizar.

Naquela noite brigamos, ela ganhou, e o sexo foi gostoso e magico como sempre.


                         FIM


Reverendo Felix Fausto.

sábado, 10 de dezembro de 2022

Panneto VS Covid 19

 O Panneto era um cara legal, agradável feito um chinelo velho. Era um tipo miudinho, sempre apertava os olhos ao falar com qualquer um, fruto de uma miopia, ele se recusava a usar óculos.

Panneto tinha uma loja, ha mais de trinta anos, vendia somente fitas k7.

Eu nunca entendi aquilo, porque não discos de vinil, ele afirmava que LPs ocupavam muito espaço.

E em termos de música ele era uma autoridade, sabia tudo, era um entusiasta, um apaixonado por música.

Fui até a loja dele.

O mundo vivia uma pandemia, o famigerado Covid 19 seifava vidas a torto e a direito. Eu achava que era uma mentira. A midia alarmista, falava de mortes aos milhões.

Eu não acreditava, disseram que idosos, asmáticos e obesos morbidos eram as vitimas principais, confesso que não me importei, vislumbrei um mundo melhor, com ruas vazias, mais lugares nos restaurantes e shows.

Quando cheguei na loja do Panneto, ví que na porta havia uma barricada feita de banquetas.

Era algo inútil.

Chamei ele, então ele apareceu, olhou-me com desconfiança. Estava todo paramentado, com máscara cirurgica e mais uma viseira de acrilico.

-Opa!-disse ele lá detrás do balcão. A loja era mal iluminada. Balcões carcomidos pelos cupins. Era decadente.

-Daí Panneto, como estão as coisas?- Perguntei. Ele continuava a me olhar com desconfiança.

-Cara, tu está sem máscara?-Ele me perguntou, me olhava como se eu fosse um leproso, ou algo pior.

-Sim, estou. Tu sabes que eu não acredito nisso. Panneto essa bosta não passa de uma gripe, e usar essas máscaras me incomoda.-Foi o que eu respondi.

-Não... Tu é maluco, isso mata mesmo.-Ele respondeu, e percebi que ele estava visivelmente incomodado.

-Cacete, Panneto, tu sabe que nessa tua loja o ar que se respira aí dentro tem germes e virus dos anos 70!!!-Respondi. E era verdade. Ele já tinha perdido um sócio para o câncer, e um funcionário que ganhou uma doença pulmonar grave trabalhando ali.

-Não, não vou te deixar entrar.

-Puta merda, eu nem quero, somos amigos. Só vim saber como tu está?- Falei, já sem muita paciência. Ele começou a organizar algumas fitas K7 nas estantes.

-Estou bem, mas tu devia se cuidar melhor... E ter responsabilidades com a vida dos outros. Essa tua atitude é muito inconsequente.- Foi o que ele me disse.

Panneto estava louco.

Só podia ser isso. Me despedi dele e saí de lá.

Fiquei sabendo depois que ele já havia tomado 5 doses da vacina do Covid 19. Eu apenas duas. Na visão dele talvez eu fosse um sarnento.

E a coisa só piorou. Um outro amigo foi ver ele, e tudo o que ouviu foi uma voz amedrontada através da barricada de banquetas.

Panneto se isolou cada vez mais. Um dia precisou sair, coisa que ele evitava, tinha um extremo cuidado em não contraír a peste.

Por ironia do destino, nessa saída Panneto foi atropelado e morreu.

A vida as vezes pode ser muito sacana.


                     FIM


Reverendo Felix Fausto.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

A Reunião

       Estavam todos lá. Cadeiras no recinto formavam um circúlo perfeito, a sala era toda branca, impessoal.

   A verdade era que faltava um.

Mas os outros todos estavam. O Piadista observava a todos os outros ser disfarsar seu interesse. Sr. Mandibula, que era exatamente isso, uma mandibula imensa com dentes de quase dez centímetros, amarelos e pontiagudos, flutuava sobre o assento da cadeira.

    O Evento No Horizonte era somente um fundo negro, um abismo sem fim.

  O Homem De Familia estava inquieto em sua cadeira, aquele festival de aberrações o deixava pouco a vontade.

   O Heroi lía um livro, a capa estava em branco. Não dava para saber o que era.

 O Psicopata limpava seus sapatos com um pedaço de pano, fazia aquilo compulsivamente, parecia que ía acabar gastando os sapatos de tanto esfregar.

  O Labioso, ah o Labioso !!! Era um tipo bonitão, gentil e charmoso. Um destruídor de corações.

Foi então que chegou Dan Dan. Todos olharam para ele.

Dan Dan parecia um dandy, suas roupas eram vitorianas, um fidalgo. Portava uma bengala de madeira ornada com detalhes em prata. Tinha pintado as unhas de preto.

O grupo ficou inquieto.

-Senhores, desculpem o atraso, outras urgências exigiram minha presença.- Disse ele.

-Não se faça de bobo Dan Dan, você chegou atrasado pensando em algo triunfal.-Disse o Piadista.

-Uma entrada impactante, bem seu tipinho.-Disse o Psicopata. Agora ele havia deixado de lado a tarefa de lustrar os sapatos. O Heroi virou para ele e disse:

-Tenho coisas para fazer, meu tempo é precioso, qual a natureza dessa reunião?

-Nosso corpo, ainda não percebeu que ele está com problemas?-Disse o Sr. Mandíbula respondendo a pergunta do Heroi com outra pergunta.

A escuridão que era o Evento No Horizonte pareceu vibrar, e de onde ele estava, uma voz cavernosa falou:

-Algo tem de ser feito...os deuses morrem quando os homens não lhes prestam mais homenagens...

-Eu quase me borro de medo quando esse cara fala, mais alguém?-Perguntou o Labioso.

Uma agitação tomou conta da sala.

-Senhores, senhores. A verdade é que todos moramos nessa "casa" que nos serviu e serve muito bem em todos esses 55 anos.-Disse Dan Dan, que tirou do bolso interno do casaco uma pequena caixa metálica, era rapé, colocou uma pequena porção nas narinas e aspirou.

-Mas uma casa sofre com a ação do tempo, precisa de cuidados e reparos, e estamos sendo negligentes com isso. Se não fosse por aquele cidadão ali, o Homem De Familia, tudo já teria desabado.-Terminou seu relato apontando para o Homem De Familia.

 -Concordo, ele é a reserva moral desse corpo, acho que ele e o Heroi merecem uma medalha.-Disse o Piadista.

-Nos poupe das suas bobagens Piadista!!!-Disse Dan Dan. Nesse momento seu rosto começou a mudar, isso acontecia quando ele se irritava. O seu rosto mudava rapidamente de forma, quase era impossivel acompanhar as metamosfoses.

-Não me subestimem, eu sei de todas as merdas que vocês fazem, sei de cada coisa que maldosamente sussurram para ele.-Assim dizendo Dan Dan ficou de pée fitou cada um deles, como seu rosto mudava de forma constantemente, era impossivel descobrir o grau e tamanho da sua fúria.

O Labioso também levantou e ficou encarando as metamorfoses, haviam dezenas de olhos, e dezenas de rostos.

-Acalme-se, eu peço. Somos todos amigos aqui.-Disse o Labioso.

-Guarde sua lábia para as mulheres que você engana, Labioso.-Disse Dan Dan.

-O corpo está confuso, sei das coisas que vocês falam para ele, nas noites em que ele perde o sono. Um de vocês falou até em suícidio, outro em assassinato. Suícidio, é sério? Nós habitamos esse corpo!-terminou Dan Dan. 

O Labioso voltou a sentar-se.

O Sr Mandíbula flutuou um pouco mais alto, daquela bocarra sobrenatural saíu um cheiro fétido.

-De todos aqui presentes  o Psicopata e o Labioso nos tem causado mais problemas.-Disse o Sr Mandíbula

-Um responde pelo temperamento explosivo, e o outro idiota pensa com a cabeça de baixo-Disse o Evento No Horizonte.

Aquela voz cavernosa, a escuridão viva com a profundidade de um universo, realmente causava desconforto nos demais.

-Ah, pois bem. Vocês não fazem idéia o que é administrar tudo o que acontece aqui. Mas olhem só, sugeri a ele terapia. Algumas sessões trarão a ele um periodo de esclarecimento e sossego.-Disse Dan Dan, suas mutações estavam cessando.

-Ele vai falar de todos nós?-Perguntou o Psicopata.

-Com o tempo sim, por enquanto eu me encarrego da coisa toda, entendam, para qualquer um em que ele se revelasse, talvez a pessoa enlouquecesse também.-Respondeu Dan Dan

-Qual o plano?-Perguntou o Piadista.

-O Heroi e o Homem De Familia assumirão o controle, o resto que se aquiete, e tudo ficará bem.-Disse Dan Dan.

-Por quanto tempo?-Perguntou o Labioso

-Por muito tempo!-Respondeu Dan Dan. E completou em seguida:

-Manifestem-se no mundo dos sonhos, lá terão a liberdade que precisam.

Dito isso, a reunião foi encerrada.


            Fim

Felix Fausto

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

DANTALION

                 DANTALION


As pessoas não são os meus brinquedos

E todos os sentimentos que eu não entendo

Acabam somando aos meus medos

Eu não gosto do que os espelhos mostram

Tantos rostos

E eu não sei qual é o meu

Eu sou todas as verdades

E todas as mentiras

Sou um demônio sedutor

E fidalgo dos abismos

Quando eu cair

Deixe-me ali mesmo

Que flores negras

Cresçam no lugar

Onde eu cair

Nenhuma lágrima

Para o velho trapaceiro


Felix Fausto

domingo, 13 de março de 2022

Senhor Mandíbulas

    Durante o almoço enquanto tomava a sopa de capeletti, observava o sujeito numa mesa próxima comendo lasanha. Ele fazia sua refeição usando uma boina de lã. Fui ensinado a não sentar a mesa para comer usando chapéu, gorro, ou boné.

   Falta de educação dizia a minha avó.

      Aquilo me incomodava, muito. Dissimulei um comportamento obssessivo, não conseguia disfarsar o quanto aquilo me irritava.

 Então ele perguntou:

-Será que dá para arrancar o rosto de alguém com uma colher ?- A voz vinha de dentro da minha cabeça, era o Senhor Mandíbulas. Ultimamente suas intervenções eram frequentes.

-Imagino que seja trabalhoso, uma colher não tem o fio de uma faca.-Respondi.

-Hummm, trabalhoso sim, mas tenho certeza de que também seria divertido.- Disse o Sr Mandíbulas. Fiquei olhando a colher em minha mão, talvez desse para arrancar um olho. O sujeito continuava comendo sua lasanha com aquele boné enfiado na cabeça.

  Minha esposa olhou para trás, talvez achando que eu estava olhando pra a TV logo acima na parede.

-Achei que estivesse passando video clipes.- Foi o que ela disse inocentemente. Mas não. O que eu pensava era num jeito de matar o miserável. A sorte do mundo era ainda eu estar no comando, mas não sei até quando.

  Talvez algum dia eu liberte o Sr Mandíbulas como Deus libertou as pragas sobre o Egito, como o mar se abrindo para soltar o Leviatã com toda a sua fúria. Foi a terceira vez na semana em que o Sr Mandíbulas me assediou sedutoramente com sua voz.

     Mas ainda não, não será agora...


Reverendo Felix Fausto