Todos experimentaram um momento de horror e pânico, a cabeça decepada de Crispin encarava os presentes com olhos opacos, sem vida. Houve uma gritaria e Felix tentou forçar as cordas que o prendiam. -Oliveira, Oliveira !?- Chamou Balthazar..
A porta então abriu de sopetão e o Oliveira entrou com uma expressão de agonia no rosto, os olhos estalados e a boca arreganhada. Segurava algo, eram suas entranhas, escorrendo para fora feito serpentinas sangrentas. Caiu morto no chão. Tolledo e o capanga restante correram para fechar a porta. - Droga, ela está fora de controle ! -Gritou Tolledo trancando a porta.
Felix estava morrendo de medo, o sangue do Oliveira se espalhava pelo chão molhando seus sapatos. Tolledo aproximou-se dele e com a faca cortou as cordas que o prendiam. Sacou a arma e apontou para a sua cabeça. Felix ficou sem entender. -Levante, tu vai lá pra fora !!!- Disse ele. Felix olhava para a pistola apontada para a sua testa. -Lúcio abre a porta ! - Ordenou ele. Lucio abriu a porta e Felix foi empurrado para fora, a porta se fechou assim que ele saiu. Seus pulsos doíam por causa das amarras. Tropeçou em algo e caíu, era o corpo decaptado de Crispin, levantou-se e olhou em volta. A noite era iluminada unicamente pelos relâmpagos, a água da chuva deixavam seus olhos ardendo.
Em meio ao barulho da chuva conseguiu distinguir um rosnado ameaçador, seu coração disparou, foi então que ela surgiu, a água da chuva não havia lavado o sangue do seu vestido. Os braços nús, suas mãos crispadas como garras e um pequeno filete de sangue escorria dos seus lábios.
Os negros cabelos escorridos realçavam sua aparência felina, predatória.
Então ela encolheu-se feito uma mola, pronta para saltar na direção de Felix. Um estrondo forte, não de um trovão, mas de um disparo. O peito dela irrompeu numa explosão de sangue fazendo com que ela caísse no chão.
Felix olhou e viu Sil e Cabral parados à uma pequena distância, Sil ainda segurava a arma com o cano fumegante, Cabral ao lado dela segurava o rifle, era a cavalaria, como nos filmes, quase sempre atrasada. Felix correu para junto deles. Meia hora antes contrariando as ordens de ficar em sua casa, Cabral havia decidido ir atrás deles, encontrara Sil desacordada dentro do carro, estava com uma dor de cabeça mortal, mas estava viva. Então Balthazar, Tolledo e Lúcio saíram de dentro da guarita. Os dois últimos armados.
Cabral atirou, não pensou duas vezes. Acertou Lúcio na cabeça, caíu morto. Tudo acontecia muito rápido, Tolledo acertara Cabral duas vezes, no peito e no braço. Cabral caiu de joelhos, e depois tombou por completo. Em meio à todo aquele caos de tiros e morte, Sil percebeu que a criatura havia sumido, e isso certamente era um grande problema. Felix juntou o rifle junto ao corpo sem vida de Cabral e atirou duas vezes, acertou Tolledo no ombro esquerdo que cambaleou, a outra bala acertou a parede da guarita arrancando pedaços do reboco.
Tolledo aprumou-se e atirou, Sil sentiu a bala passar rente a sua cabeça, ela revidou e foi certeira. Tolledo tombou com um tiro no pescoço. Balthazar aproveitou a confusão e saiu correndo.
-Ela vai fugir !- Gritou Sil atirando, mas errou.
- Não importa, ele não vai longe ! -Respondeu Felix. Então entrou na guarita e pegou uma garrafa de querosene que tinha embaixo da pia. Sil o seguia, entraram no barracão e Felix juntou os trapos ímundos derramou querosene e ateou fogo, acendendo com um isqueiro.
Saíram e o fogo alastrou-se rapidamente, ficaram esperando que talvez ela estivesse lá dentro. Mas nada, as chamas apesar da chuva consumiam todo o barracão.
Nada aconteceu, nem sinal dela, ou de Balthazar. Foram até a casa principal e fizeram o mesmo. O fogo pegou fácil na mobilia seca. A fumaça fazia com que seus olhos ardessem e Sil teve um acesso de tosse. Ouviram um grito, era Balthazar. Correram em direção aos gritos e encontraram Balthazar caído sob os pés da criatura. A cabeça quase que totalmente separada do corpo, e seu braço direito havia sido arrancado. Ela ficou encarando eles, nem sinal do ferimento em seu peito. A chuva começava a parar e logo não tardaria a amanhecer.
Sil e Felix apontaram suas armas na direção dela. Não estava longe, e ela avançou na direção deles. Atiraram, sem efeito. Sil foi a primeira a ser atacada, os dentes da criatura cravaram fundo em seu ombro. Felix atirou novamente, desta vez acertou. A criatura caíu no chão, Sil levantou-se auxiliada por Felix. - Vamos saír daqui ! - Disse ele. Correram deixando a vampira para trás, Sil sentia o sangue escorrer do ferimento.
Então vindo do alto a criatura caíu de pé na frente deles, barrando a passagem. Sil levou um murro tão forte que foi jogada para longe, Felix tentou atirar novamente, mas estava sem munição. A criatura segurou sua cabeça com ambas as mãos, e numa torção rápida quebrou-lhe o pescoço, fazendo se ouvir um estalo seco. Sil gritou e quando o monstro virou para ela, Sil atravessara seu peito com um pedaço de madeira, usando- o como uma estaca. Os olhos da criatura ganharam um aspecto humano, e ela desabou lentamente com o corpo se desfazendo em cinzas.
Ouviu-se um último relâmpago. Sil foi embora dali.
Alguns dias se passaram. Sil fugira da cidade com algumas economias que tinha, seu ferimento havia sido tratado por uma amiga que era enfermeira, não havia procurado um hospital, sua situação exigia alguma discrição. O ferimento demorou, mas cicatrizou. Sil estava diferente, estava sensível à luz do sol. Não sentia fome, qualquer tipo de comida a nauseava e agora ela podia jurar que sentia o cheiro do sangue das pessoas...
FIM