Início

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Pin-Up

Modelo pinup Suzy Azevedo, a garota Lollipop

           Paul rastejava na lama fria da trincheira entre corpos mutilados e companheiros agonizando. Não entendia como alguns romantizavam as guerras, não havia nada além de dor, morte e destruição.
           Só ele havia sobrado, seu instinto de sobrevivência e uma obstinação férrea o haviam trazido inteiro até então. Ah, e tinha também a Garota Lollipop, trazia consigo o recorte de um calendário, onde uma pin-up de faces rosadas e coxas grossas, passava a língua voluptuosamente num pirulito colorido.
               Paul havia prometido para sí mesmo que quando a guerra acabasse, e ele sobrevivesse, casaria com uma garota como aquela, teriam filhos, uma casinha num bairro tranquilo, com uma cerca branca e um lindo jardim.
       Mas agora, o que ele tinha eram somente os horrores de uma guerra que parecia não ter fim. As vezes ele tinha certeza de quê, todos os soldados de Hitler estavam ali, unicamente para acabar com o seu sonho da casar com a Garota Lollipop. As explosões faziam a terra tremer, seus pés e mãos doíam de frio. Rastejava segurando a metralhadora junto ao peito.
                Ouviu um som de vozes, a aspereza do idioma germânico, levantou a cabeça e viu cinco vultos se aproximando. Eram soldados alemães.
                Ficou quieto, tirou do bolso o recorte do calendário e suspirou apaixonado. Tinha a Garota Lollipop, ela era seu amor, sentia um arrepio quase adolescente ao olhar aquela foto. Envergonhado, recordou os momentos de masturbação solitária, segurando aquele recorte. Ele precisava manter-se vivo para a Garota Lollipop, aquele anjo de meias de seda e cinta-liga, os cabelos negros arrumados num penteado da moda, labios e unhas de um vermelho de sangue, a Garota Lolipop era tudo !!!
          Guardou carinhosamente o recorte no bolso, e preparou-se para o pior. No último instante teve uma ideia. Fingiu-se de morto. Estava frio e se conseguisse segurar a respiração, talvez is soldados inimigos simplesmente o deixassem em paz. Ficou imóvel quando eles chegaram.
Quando passaram, um deles voltou e começou a revistá-lo, à procura de cigarros. Vasculhou os bolsos de Paul, e achou o recorte, disse algo em alemão, riu alto e guardou no próprio bolso o recorte.
       Paul teve bons companheiros mortos naquela guerra, estava  longe de casa lutando a guerra de outros. Agora estavam levando a Garota Lollipop embora, sua Garota Lollipop, seu único e verdadeiro amor...
              Ergueu-se num salto. Sua metralhadora cuspiu fogo e chumbo aquecido, o alemão que havia levado a Garota Lollipop foi a primeiro a cair, os outros viraram atirando na direção dele. Paul correu na direção deles, mais dois deles caíram, Paul sentiu um estouro na altura do estômago, com a dor, deixou que sua metralhadora caísse. Sacou a pistola e acertou mais um soldado inimigo. Sentiu outro impacto, dessa vez na perna. O chucrute restante entrou em luta corporal com ele, Paul deixara cair sua pistola. Puxou sua faca e cravou no pescoço do soldado, ouviu sons de gorgorejo em sangue, deixou sua faca enterrada até o cabo na garganta do soldado inimigo.
Rastejou debilmente até onde estava o corpo do soldado que havia pego o recorte.
      Ficou ali, segurando o recorte, seu pequeno e único tesouro. A Garota Lollipop era dele novamente.
       Dias depois quando seu corpo foi encontrado, ainda segurava junto ao peito  o recorte do calendário da Garota Lollipop, seu único e verdadeiro amor.

Reverendo Felix Fausto

Um comentário: