Vivemos tempos estranhos, trabalhando na clandestinidade somente uma das portas do bar estava aberta. Algumas pessoas traziam garrafas para levar cerveja para casa.
Eu estava parado na porta quando ví o Akira chegando. Tinha esse apelido por que era fã de mangás. Um sorriso largo se abriu no rosto barbado quando me viu. Parecia cansado, e mancava um pouco,(depois contou-me que havia machucado o pé no trabalho.), eram 19:00 e o sol ainda estava forte.
-Dá pra beber aí ?- Perguntou. Respondi que sim, mas servi ele num copo plástico e ficamos lá fora. Gostava dele, era um tipo interessante, um sobrevivente.
Teve lá seus problemas com drogas e bebidas, algumas overdoses e internações mas ele ainda estava inteiro. -Arrumei um trampo foda, devo ter carregado uma tonelada de amortecedores de carro. Mas pagam bem.- Disse ele.E era verdade, era trabalhador, apesar de maluco. Não fazia corpo mole para o serviço pesado.
Fui lá dentro do bar e me servi de um copo de cerveja para acompanha-lo.
Ele acendeu um cigarro e tragou com satisfação. Deu um gole na cerveja e disse:
-Cara, to comendo a mãe de um amigo, ví o cara crescer, mas a mulher é doida !
-Bom, acho que isso faz com que tu seja o padrasto dele.- Falei. -Estreitaram a relação.-Terminei.
-Capaz, ele nem imagina que estou comendo a mãe dele ! E além do mais já vou largar fora.- Terminou.
Nesse momento a "gostosa das 19:10" estava passando. Passava alí todos os dias nesse horário, acho que trabalhava numa academia ali perto. Olhou para mim, e me cumprimentou, nunca fazia isso, passava ali de nariz empinado, tão empinado que dava para pendurar um cabide nele.
Sabia que era gostosa, eu e outros caras chegavá-mos a silenciar quando ela passava, um bando de imbecis,(eu junto), enchendo a bola dela.
-Cara, que raba !- disse o Akira. Concordei, era realmente um rabão.
Alguem buzinou de um carro que passou, acenei, mesmo não sabendo quem era, ou se era pra mim.
-Ela é mais velha, não tem frescura. Prefiro.- Dizendo isso acendeu outro cigarro.
- Mulher mais velha, e "gordinhas" são as melhores.- Completou. Abanou a fumassa do cigarro, para que a mesma não chegasse ao meu rosto.
Comecei a juntar as coisas, estava na hora de fechar, ele me ajudou, carregando uma das mesas.
Pagou-me a cerveja, e antes de sair disse:
-Você tá tranquilo né, quero dizer, se aquietou ? Parou de pegar um monte de mulher.
-Bom, uma hora a gente para. E estou feliz como assim.- Respondi.
Akira sorriu e um outro carro buzinou.
Foi embora, talvez morasse ali perto, não sei.
FIM
Reverendo Felix Fausto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário