A palavra "normal" de forma alguma definiria minha infância. Claro, eu fazia coisas que qualquer criança na minha idade teria feito, brincava, corria, tinha amigos mas não me destacava em nada, gostava de ler, lia muito. Minha tia Jussara havia me ensinado as primeiras noções de escrita e leitura, e a partir daí me alfabetizei quase que sozinho.
Ela lia muito para mim, lembro que gostava de contar os sofrimentos de Cristo, na sexta feira santa, reunia a criançada, os sobrinhos todos e narrava com dramaticidade e via crucis. Eu de alguma forma me deleitava com aquilo.
Lembro de ter achado em casa As Mil E Uma Noites, devorei o livro. Depois achei Alice No País Das Maravilhas e na sequência achei A História Universal Da Infâmia, de Jorge Luis Borges. Minha infância dividida entre sombrias leituras e coisas pertinentes a todas as crianças. Nunca entendi se isto foi bom, ou ruím para a minha informação.
Ela andava sempre com meu tio Dino, ele chamava ela de Polaca, não lembro, ou nunca soube seu nome verdadeiro. Era loira, cabelo dourado, tinha um corpo bonito, pernas perfeitas, que saias mininusculas realçavam a beleza. Eram os anos 70 e minisaias eram um iten indispensável para as mulheres.
Um dia meu tio me levou a casa dela, deixou-me sozinho com ela, e foi fazer não sei o quê. Eu tinha uns seis anos, fiquei no chão brincando com umas revistas que a Polaca havia me dado. Ela olhava uns discos, e eu ali, sentado no chão descobri as pernas dela. Por um momento esquecí das revistas, perdi meu interesse por elas, fiquei alí hipnotizado por aquelas pernas.
Ela parecia muito alta, talvez nem fosse, mas do ponto de vista de uma criança sentada no chão ela parecia muito alta.
Fiquei olhando aquelas colunas de carne, firmes e bem feitas, me aproximei mais para poder ver melhor, conseguia ver por debaixo da saia dela, aquela bunda branca, a calcinha azul. Alheia a minha presença ela continuava olhando as capas dos discos. Não me contive, talvez tivesse a necessidade de saber se aquelas pernas eram reais. Comecei a toca-las com interesse quase religioso, minhas mão alisavam a pele aveludada, foi quando ela olhou para baixo.
-Tu gosta disso né ?- Perguntou sorrindo, eu não entendi nada, mas sabia que estava gostando daquilo. Meu tio entrou e ela disse:
-Olha o quê o danadinho tá fazendo !
Meu tio sorriu, agora entendo que houve um tipo de aprovação naquele sorriso. Logo ambos sairam e me levaram com eles. Acho que a Polaca foi meu primeiro entendimento do que as mulheres poderiam proporcionar.
Tarado desde pequeno, e talvez eu nem soubesse.
FIM
Reverendo Felix Fausto
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