Horas se passaram e Felix não conseguia sair da cadeira em frente a porta. Simplesmente não conseguia.
Lá fora na noite fria e escura algo o espreitava. Sentia-se como um dos porquinhos da história, lá fora estava o lobo mau,pelo menos essa era a casinha que ele não conseguiria soprar!
Claro que o medo que ele sentia era algo concreto,e por mais forte que fosse esse medo ele sentiu que algo precisava ser feito.
Levantou da cadeira e vasculhou na gaveta do balcão da pia algo que pudesse usar como arma.
Achou uma afiada faca de cortar carne e também uma lanterna. Testou a lanterna,e ela estava funcionando, ficou satisfeito, suspirou fundo, abriu a porta da guarita e saiu.
A lua cheia recebeu-o majestosa no céu,as copas das árvores dançavam ao sabor dos ventos, projetando sombras fantasmagóricas nas paredes da guarita.
Caminhou na direção do barracão, a porta aberta dava a impressão de ser a bocarra escancarada de uma criatura gigantesca, lá dentro, a escuridão era como algo vivo.
Segurou a faca com firmeza em uma das mãos,ligou a lanterna e entrou.
Lá dentro a temperatura era bem menor que lá fora.Parecia um túmulo e o cheiro era como o de um túmulo.
A luz da lanterna iluminou um pequeno catre,uma confusão de cobertas e roupas espalhadas no chão de pedra.
Eram roupas distintas umas das outras,de tamanhos e modelos diferentes.Haviam muitos livros também.
Chamaram-lhe a atenção as manchas escuras nas paredes, Felix se aproximou e tocou as manchas que estavam secas.
Era sangue.
Sentiu como se uma mão descarnada lhe tivesse roçado um dedo na nuca.
Saiu do barracão que parecia o ninho de um animal selvagem.
Foi então que ele viu a mulher da foto.
O vestido branco era comprido e de alças, totalmente inapropriado para o frio que estava fazendo. Ela estava descalça e o frio parecia não incomodá-la. Tinha os cabelos negros e sua pele era tão pálida como a lua no céu.
O vento soprou o vestido que colou em seu corpo, revelando suas formas.
"Ela tinha a beleza terrível de mil exércitos em marcha."
Lembrou de ter lido isso em algum lugar. Desceu um pouco a luz da lanterna e viu que os pés dela não tocavam o chão.
Não tocavam o chão!!!
Felix queria fugir,mas também queria ir em direção à ela e declarar todo o seu amor,sentiu-se tomado de desejo e luxúria, faria amor com ela ali mesmo.
Mas também percebeu que esses pensamentos não eram dele, a mulher com o rosto de alabastro estava de alguma forma dominando-o.
Seus lábios eram de um vermelho muito vivo,em desacordo com sua pele branca e o negror daqueles cabelos.
Os olhos,de um verde de morte e mistério.
Ela sorriu.
Revelando os pequenos caninos brancos e pontiagudos.
E sumiu no céu noturno.
Alçou vôo como uma ave elegante e mortal.
Felix levou alguns segundos para se recuperar,e voltou correndo para dentro da guarita.
Continua...
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