Início

terça-feira, 6 de agosto de 2019

O Vigia parte VI

 Trancado na guarita, Felix não havia dormido.
 Ficou sentado na cama e quando cochilava, abria os olhos assustado. Não queria dormir. Tudo em que acreditava havia sido posto em cheque com o incidente da noite anterior. Teria de estar aberto para a possibilidade da existência de lobisomens, zumbis e bruxas e toda uma variedade de criaturas fantásticas.
 Assim que o sol despontou no céu ele saiu e trancou a porta. Fechou ela apressadamente receando que um braço branco o puxasse lá para dentro. Pensou em ligar para o Tolledo e dizer que não queria mais o trabalho.
 -O desgraçado do Tolledo sabe dessa coisa.-Disse em voz alta enquanto se afastava da porta. Ficou na dúvida sobre o que Balthazar e Tolledo fizessem, caso soubessem que ele tinha conhecimento da coisa lá dentro. Lembrou-se do que Sil havia dito,sobre as histórias naquele lugar. Ele tinha o número do telefone dela. Resolveu ligar. Demorou um tempo até que ela atendesse.
 -Oi,quem??? -Perguntou a voz do outro lado.
 -Sou eu, Sil, o Felix.
 -Ah,sim! Como tu está?
 -Hummm,bem...Estou bem. Mas preciso muito falar contigo.
 -Hoje?
 -O mais rápido possivel!
 -Bom,vou aí pra gente conversar.-Ela respondeu.
 -Acho que aqui não seria o lugar ideal. Mas se tu puder vir me buscar?
 -Claro,parece urgente.Tá tudo bem mesmo?-Ela perguntou.
 -Por enquanto sim. Venha por favor.-Felix desligou o telefone.
 Quarenta minutos depois, Sil chegava num carro preto. Sil beijou-lhe o rosto, ela usava um óculos de sol. Seus cabelos estavam presos com uma bandana vermelha.
 -Tem um bar há alguns quilômetros daqui, podemos ir pra lá.-Disse ela.
 -Claro,perfeito. -Felix respondeu.
 Entraram no carro e saíram. Ela dirigia bem,o jeans justo e surrado estava rasgado nos joelhos.
 -Tu falou sobre histórias referentes ao lugar onde eu trabalho?
 -Sim,mas não sei se a maioria merece algum crédito.-Respondeu ela,e prosseguiu: -Esse povo daqui é supersticioso,ou ignorantes mesmo. Mas falam de desaparecimentos que ocorrem aqui há uns vinte anos. Sei que o Balthazar tem envolvimento com gente barra pesada, acho que ele usa aquele lugar pra sumir com seus desafetos.
 -Sim,Tolledo eu sei que é um cara perigoso.-Falou Felix.
 Queria contar para ela o que havia acontecido,mas sabia que ela acharia ele louco.
 -Mas...Já te falaram sobre algo...Hummm, não natural que aconteça naquele lugar?
 Felix estava tentando ser o mais sútil possivel. Ela o encarou e tirou os óculos com uma das mãos,a outra continuava firme no volante.
 -Não vamos pro bar,vou te apresentar uma pessoa. Acho que sei do que tu está falando. Estou aqui na cidade um pouco mais de seis meses, tenho um cliente, o Cabral...É gente boa,mas tem uma história interessante sobre aquele lugar. Acho que tu vai gostar de conhecer ele.
 Ela desviou o carro por uma estrada secundária e vinte minutos depois chegaram à uma casinha de madeira muito bem cuidada. Havia um jardim florido na frente,estacionaram e desceram do carro.
 Passaram por um portãozinho de ferro e foram recebidos na casa por um sujeito robusto e grisalho. Cumprimentaram-se e entraram na casa. Era um lugar limpo e aconchegante.
 -Cabral, o Felix trabalha no sítio do Balthazar.- Falou Sil. Estavam sentados num pequeno sofá, Cabral estava de pé.
 -Sil me disse que tu poderia ter informações sobre aquele lugar. Disse Felix.
 Cabral puxou uma cadeira e sentou diante deles.
  -Aquele lugar é maldito,maldito!!! - Disse e começou a contar uma história que Felix sentia que ele já a havia contado muitas vezes:
  -Meu irmão se chamava Luis e ele foi chamado para um trabalho lá, pequenas reformas era o que ele fazia. Um valor obsceno de tão alto foi oferecido pra ele pelos serviços, é claro que ele aceitou. Trabalhou durante uma semana e um dia chegou transtornado, dizendo que o que tinha visto lá não era normal, era uma aberração e não entendia como deus todo poderoso permitia a existência de tal coisa.
 Sua voz estava trêmula e ele esfregava as mãos o tempo todo. E seguiu com sua narração:
  -Luís estava há uns quinze anos afastado da bebida. Mas naquela noite tomou o maior porre da sua vida,e se enforcou nessa árvore aí da frente!!!

 Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário